10 setembro 2010

olhar de génio

«I became a writer but when I was a boy
I used to dream of becoming the village idiot
I used to lie in bed and imagine myself that careless idiot,
planning ways to got food and sympathy easily,
planned confusion of not too much love or effort.
some would claim that I have succeded in this.» 
Charles Bukowski


08 setembro 2010

dedicatória


«Por exemplo. Há um cão vadio, sujo e com fome, cuida-se deste cão e ele deixa de ser vadio, deixa de estar sujo e deixa de ter fome. Até as crianças já lhe fazem festas.
Cuidaram do cão porque o cão não sabe cuidar de si – não saber cuidar de si é ser cão.
Ora eu não queria que cuidassem de mim, mas gostava que me ajudassem, para eu não estar assim, para que fosse eu o dono de mim, para que os que me vissem dissessem: Que bem que aquele soube cuidar de si!                                                                                                                      
*
Eu queria que os outros dissessem de mim: Olha um homem! Como se diz: Olha um cão! quando passa um cão; como se diz: Olha uma árvore! quando há uma árvore. Assim, inteiro, sem adjectivos, só de uma peça: Um homem!
*
Mas eu andei a procurar por todas as vidas uma para copiar e nenhuma era para copiar.» Almada Negreiros, A Invenção do Dia Claro.


um olhar, mil abismos

Dezembro, 2005

«Mas de repente toda a minha vida começou a decorrer à minha frente, como um flash, a ferir-me os olhos. E então não consegui mais esconder-te em mim e lembrei-me de ti. E a dor foi maior do que qualquer ser humano podia suportar. Toquei no rosto da mulher que me sorria, sonhadora e feliz, e tentei encontrá-la na minha cara e dentro de mim própria. Acariciei o teu rosto que olhava para mim, sonhador e feliz, tentei capturar o teu sorriso e alcançar o brilho do teu olhar. Fechei os olhos para melhor te sentir e quando os abri tu já lá não estavas.
E então desisti de tudo, deitei no chão o meu corpo dorido, e encolhi-me como quem se quer proteger do mundo, com as pernas bem encostadas ao peito e os ossos salientes dos joelhos a tocar-me o queixo.
Pousei a cara em cima do teu espaço vazio na fotografia e ali fiquei, à tua espera…». Maria Teresa Loureiro, Um Olhar, Mil Abismos



06 setembro 2010

ainda há quem escreva cartas de amor

«quero-te dizer que agora estou com sono, não porque seja tarde, pelo contrário, já amanheceu e eu acordei depois de uma noite em que quase não dormi. reli uma vez mais as tuas cartas, e decidi responder primeiro à última. como ensina o Evangelho - «responderás primeiro à última carta, só depois responderás à primeira.» (Livro Vinte5, 34,9). Deus seja louvado por todo o cuidado que pôs em definir regras de civilidade para bem escrever, ámen. mas prometo-te que amanhã tentarei responder às duas primeiras, e todos os dias que vierem, e nos meses e nos anos ainda por vir, tentarei sempre estar à altura de responder a todas as tuas solicitações, seja na forma de uma carte, de um olhar, de um gesto ou pedido; em resumo, seja qual for a forma que a tua presença assuma, quero estar lá pata ti, para mim, para nós. não tens que ter medo de me perder, e isto porque, no momento exacto fizeste essa magia de seres tu, esse feitiço encantador que a beleza sempre é; já me ganhaste, tens ganho todos os dias o prémio grande ou pequeno, bom ou nem por isso, do meu ser que por completo a ti se entrega. a resposta à tua carta está sintetizada na mensagem telefónica que ontem enviei, na raiz de tudo está esta nudez limpa que nos une, esta arrumação das horas e do mundo que vamos fazendo à nossa volta em função deste nós...»


05 setembro 2010

olhar à tua espera


«Ela era a única pessoa com quem queria partilhar a minha angústia e a necessidade da sua presença chegou a doer-me fisicamente. Queimava-me por dentro e nada nem ninguém me conseguia aliviar. Transformei-me numa figura cinzenta nos corredores. A minha sombra confundia-se com as paredes. Os dias caíam como folhas mortas.» Carlos Ruiz Zafón, Marina.



olhos em fusão

«Naquele dia, o fantasma de Gaudí esculpia no céu de Barcelona nuvens impossíveis sobre um azul que fundia o olhar.» Carlos Ruiz Zafón, Marina.