07 agosto 2010

e por si se move

«Com o ligeiro tremor de terra que abalara a cidade de Lisboa, a perna de presunto desprendera-se da cunha que a sustinha no ar - um pouso para moscas. Na sua queda vertical o peso morto rasgara o espaço, e com um efeito de guilhotina decapitara o taberneiro Pépe, cuja cabeça, rolando pela banca até cair na panela ebuliente, forcejara com língua, nariz e dentes, para alterar a rota da trajectória. Pouco depois caíram as cebolas, que entrelaçadas tinham pendido também na trave arqueada. A sopa fez-se.
Notificando o insólito caso de acefalia às autoridades competentes, a mulher serviu, nessa noite ao jantar, sopa a amigos e familiares.» 
Carlo Magalhães Ruas, in Oficina de Poesia, Março de 2002.

Sem comentários:

Enviar um comentário